A origem da questão
Estava lendo um post escrito no Usabilidoido que deu bastante polêmica, e achei interessante discutir um pouco a origem da questão: Designers analfabetos funcionais.
Segundo Fred, autor do blog, a única explicação para alguns designers usarem tipografias meramente como elemento decorativo é serem analfabetos funcionais. "O designer analfabeto funcional é a pessoa que faz uma faculdade furreca, lê uns 'tutoriais' ou 'aprende' fazendo e não entende que o objetivo primordial da tipografia é permitir uma leitura confortável e estimulante."
Chega a ser engraçado porque cita um exemplo de uma agência premiada que de acordo com sua percepção, a qual compartilho, desrepeita o usuário com um tutorial para aumentar a fonte do site através do Painel de Controle no Windows, modificando a resolução para 800x600. Teve direito de resposta e tudo da agência, mas a questão principal, que remete a velha discussão "Micreiro X Profissional", eu acho que em todo o material que li (blogs, listas, portais) sempre fica faltando aquele breve histórico, para entender como tudo começou.
Não estou me referindo a história da internet e muito menos, estratégias de guerrilha, mas como surgiu esta sensação de "ameaça" dos profissionais com a presença no mercado de design dos "micreiros".
Tenho uma visão muito particular, bem relacionada com as tendências de consumo no Brasil de acordo com a globalização.
Na década de 80 existiam bem definidas as classes sócio-econômicas com seus respectivos bens de consumo. A classe A (importados), B (nacionais com equivalência internacional. Ex.: Gradiente) , C (nacionais com uma geração tecnológica passada. Ex.: CCE), D (Importados sem marca. Ex.: Sacolão do Paraguai) e E (se consumia ia na rebarba da D).
No início da exploração comercial da internet, nos anos 90 quem trabalhava como designer era o profissional ampliando sua área de atuação. Quase não exisitia muitos estudantes ou amadores com acesso à ferramentas porque não exisitiam as redes P2P.
Logo após o desligamento do Estado sustentando a classe B na década de 90, com a extinção dos grandes cargos públicos e privatizações, entrada de importados para todos os tipos de bolso, houve uma grande divisão das classes criando grupos comportamentais diante a globalização. Acaba o velho costume de almoçar em "botequim" para comer em restaurantes fast-foods, as empresas nacionais correm atrás para equiparar a qualidade internacional, Gradiente e CCE brigam pelo mesmo consumidor e nasce o Mercado Consumidor de Bens de Luxo e Mercado Consumidor de Bens de Massa.
Hoje com a popularização da internet, aumento de publicações especializadas, cursos e a presença cada vez maior das redes P2P como Gnutella proporciou o acesso às ferramentas de construção e edição de ambientes online e com isso a oportunidade do usuário gerar sites mesmo sem conhecimento acadêmico sobre estética e sobre o próprio meio, chegou o conceito do "sobrinho que faz site" ou "micreiro".
Não sei se existe algum lugar com uma pesquisa sobre este tema, mas eu acho interessante existir o designer analfabeto funcional. Por quê? É o resultado de uma área cada vez mais democrática, criando espaço para todos e gerando uma segmentação cada vez mais nítida entre o profissional que vai buscar um novo diferencial constantemente para diferenciar-se do técnico e o "micreiro" atendendo ao público que se pré-dispõe a aceitá-lo com plena conivência. Tem lugar para todo mundo.
3 Comentários:
Fabiano,
gostei do novo visual do site. Ainda não tinha visto. Parabéns!
Abraço,
Gege Santos
12:35 AM
É mesmo Fabiano, não tinha percebido que meu post de fato levantou um problema fundamental da sociedade brasileira: a precariedade da educação.
Se por um lado, o acessos à educação é escasso e sofrido, por outro existe a resistência do próprio indivíduo em aprender. O que estou criticando no post é justamente essa acomodação de certos designers.
Assim como nas redes P2P e na própria Web estão disponíves programas para ser um bom micreiro, também estão disponíveis excelentes artigos e até livros sobre conceitos de design.
Claro que o fato dele escolher fuçar num novo programa ao invés de ler um bom livro é fruto de um sistema de educação deficitário que não incentiva a leitura, mas isso não é desculpa para ser ignorante a vida toda.
Temos que parar com essa política de "coitadinhos".
4:12 PM
Compartilho com a mesma opinião, como disse no meu post, mas não acho que são "coitadinhos" não, apesar de conhecer muitos que os consideram assim.
Simplesmente acredito que o camarada que opta "fuçar" tem o seu lugar no mercado porque tem "empresas" que procuram por eles. Após este amadurecimento que a internet já teve, só contrata serviços de alguém sem capacitação quem realmente quer.
5:02 PM
Postar um comentário
<< Home